Baruch de Espinoza (1632/1677), um judeu refugiado de sua própria sinagoga, conhecido por um homem embriagado de Deus, quando tecer comentários sobre massacres religiosos, onde era proibido filosofar, vaticinou: “que coisa pior pode imaginar-se para um Estado que serem mandados para o exilio, como indesejáveis homens honestos, só porque pensam de maneira diferente e não sabem dissimular.? Haverá algo mais pernicioso, repito, do que considerar inimigos e condenar à morte homens que não praticaram outro crime ou ação criticável senão pensar livremente e fazer assim do cadafalso, que é o terror do delinquentes, um palco belíssimo em que se exibe, para vergonha do soberano, o mais sublime exemplo de tolerância e de virtude”. Foi chamado de ‘ um homem forjado no inferno e renegado pelo próprio Diabo’. Foi um precursor da liberdade de pensamento e em especial na área religiosa, verdadeiras minas implantadas pelo domínio do pensamento por aqueles que se julgavam acima de tudo e de todos por uma vontade divina. Já imaginaram isto hoje?
O tempo era por volta de 1650/60 onde uns jogavam a Bíblia contra os outros num caldeirão com calvinistas franceses, luteranos alemães, inquisidores espanhóis contra os portugueses, rabinos holandeses contra os não da mesma ‘linhagem’. Alegavam, em fragorosas discussões, que a Bíblia é imperfeita, em partes, de cada grupo e muitos diziam que a palavra de Deus não pode ser escrita e tem, sim, de estar no coração das pessoas, pessoas estas que se matavam entre si.
O mundo estava sendo considerado diferente do que os filósofos afirmavam, qual seja, um conjunto harmônico de esferas cristalinas, perfeitas, douradas e cheias de luz, a luz da Criação, sendo tudo ‘feito’ para o homem, o centro da criação do universo, isto aqui e no céu, a morada dos deuses, dos anjos dos querubins e suas potestades, e nos subterrâneos do planeta, as almas penadas, capitaneadas pelo Demônio, o anjo caído em desgraça por desobediência do Supremo Criador. O planeta água do dilúvio, de singular criatividade, reuniu ao redor da arca de Noé animais de todo o planeta, como num passe de mágica e havia água potável e alimento para todos, conforme suas origens. Nem Júlio Verne escreveria ou bateria tamanha façanha criativa.
Queimaram muitos filósofos, como por exemplo, Giordano Bruno( 1548/1600) por que atreveu a escrever e falar sobre Deus de forma diferente do usual. Não foi feito churrasquinho porque tenha afirmado que não existia nenhum Deus, mas sim porque afirmava que Deus é transcendente( que é de natureza física e faz parte da coisas) e imanente(está em todas as coisas sendo passível de percepção através dos sentidos).Adicionou mais pimenta a seu caldo quando declarou que Copérnico estava certo, e que realmente a Terra orbita o Sol. Não entenderam nada, e portanto, fogo nele. Hoje sua estátua está no local onde foi queimado, o Campo dei Fiori, na Itália. Em 1859, Darwin assustou o mundo com sua “Origem das Espécies”. Ele foi considerado a sabedoria contra a obra da Ciência( e de Deus). Pagou caro sua ousadia.
Realmente o campo das ideias era um caldeirão fervente ( e ainda o é principalmente com a proliferação de igrejas por toda a Terra).Interessante é que toda a confusão instalada no transcorrer dos séculos, não e a perseguição cristã, e nem porque se assentava nem se assenta sobre a existência ou não de Deus, mas sim sobre o que entendem do que está escrito na Bíblia, “considerada a palavra de Deus”.
Prof. Dr. Antonio Caprio. Tanabi-sp –julho 2021
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