O estudo das diversas ações pedagógicas de nosso tempo indica que o ser humano está em franca, continuada, incontrolável e sadia rota. Freire, em seu trabalho ‘Pedagogia da Autonomia’ nos ensina que só pode ensinar certo quem pensa certo, mesmo que às vezes pense errado. Continua dizendo: ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. Assmann orienta que ‘educar não é apenas ensinar, mas criar situações de aprendizagem nas quais todos os aprendentes possam despertar, mediante sua própria experiência do conhecimento’.
Edgard Morin, em sua obra ‘ Os sete saberes necessários à educação do futuro, Ed. Cortez-SP, 2006, é um convite à reflexão com os pés no chão de forma a que o educador, o educando e a sociedade se complementem na esteira do tempo que nunca interrompe seu fluxo e a cada dia exige mais e mais de todos os envolvidos neste milenar processo de educação e do conhecimento.
Destaca o educador que ‘ as idéias existem pelo homem e para o homem; o homem existe pelas idéias e para elas’. Podemos matar pessoas, queimar livros, mas as idéias subsistem incorruptíveis e eternas e elas servem ao homem e não às pessoas. As religiões foram criadas pelos homens para driblar suas incertezas para com Deus ou mesmo para com seus deuses. Pela religiosidade, pelas doutrinas impostas pelos líderes religiosos, as ideologias se submetem ao erro protegidas pelo próprio sistema de idéias que são transformadas em ‘verdades’. De forma natural e até lógica, as doutrinas se fecham sobre si mesmas e se protegem contra as críticas que anunciam, expõem ou denunciem suas falhas e pontos atacáveis pelo raciocínio de algum seguidor.
A religiosidade é natural no ser enquanto pensante, lógico, matemático, consciente, inquiridor e renovador. A cada dia a mente humana busca ser corretiva, criando uma forte carapaça protetora contra o erro e a ilusão. Diz Morin: ‘a mente é dotada de potencial de mentira para si próprio( self-deception). A memória é fonte de erros. A mente seleciona, inconscientemente, as lembranças que convém e realça ou apaga as que incomodam. A alucinação e a percepção do mundo real andam de mãos dadas e num antigo e parece eterno namoro já tendo levado o homem a situações bastante embaraçosas. Mentiras foram criadas para impedir o rompimento de ambas as forças e desta manutenção alucinatória foram criadas seitas, religiões, credos e escritos livros que passaram a ser chamados de sagrados.
Praticamente cem por cento do funcionamento orgânico depende dos hormônios gerados pela própria máquina biológica, com fortíssimos reflexos sobre ínfimo percentual que liga o homem interno ao mundo exterior. O homem externo precisa da alucinação sem a qual não processa a ligação com o seu eu interno. Desta conexão nasce o eu eterno, o eu dominador, o eu universal.
A cultura é um extraordinário conjunto de conhecimentos, de regras, de normas, de leis, de crenças, de idéias, de valores, de mitos que desembocam no oceano maior que é a religiosidade. O eu físico se conecta com o eu imortal, com os deuses criados, imaginados, com seus mitos, suas necessidades, sonhos, devaneios e surge a alegada realidade.
A poderosa máquina física, comandada e orientada pelo cérebro humano, uma obra prima da natureza e fortíssima geradora de energia, irradia um poder incomensurável, transformador do pensamento em coisa concreta e coisa concreta em um conjunto extraordinário de extrapolações que ele, a criatura e os seus deuses, classificam como teosofia, filosofia e ciência, e destes três pilares, nascem os fundamentos da humanidade terrestre.
E este ser, um amontoado de cem trilhões de diminutas células e dotada do estranho processo chamado vida, o homem se alça para o éter universal, ambicionando dominar os mais profundos pontos deste incomensurável Universo.
E ele o fará, sem dúvida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário