A
transmigração se alicerça numa doutrina
filosófica de origem indiana, adotada pelos egípcios e outros povos, inclusive
dos povos americanos, e que mais tarde foi transportada para a Grécia por Pitágoras.
Os discípulos desse filósofo ensinavam que uma mesma alma, depois de ‘habitar’ o mundo dos mortos, pudesse voltar a animar outros
corpos de homens ou de animais e até mesmo de elementos da natureza.
O tempo pós-morte sempre foi tema
assustador e ao mesmo tempo pacificador entre as milhares de religiões do mundo
antigo e moderno. A humanidade ergueu majestosos castelos e construiu terríveis subterrâneos sobre a morte,
abominada por todos os seres humanos. As religiões foram os artífices destas
construções e tiraram delas proveitos da várias formas, inclusive financeira e
posições sociais. Céu e Inferno são os alicerces destas concepções. Um corpo
sacerdotal, ditos médiuns, se
encarregavam e se encarregam dos processos que envolveram e envolvem ricos e pobres na inevitável morte. Nada
mudou desde os primórdios da razão humana.
Já desde tempos que se perdem na
penumbra dos séculos, admite-se a possibilidade de comunicação entre os vivos e
os mortos. Há relatos de diversas partes do mundo que tentam comprovar esta
comunicação. A mumificação foi entre os povos pré-colombiano muito usada,
inclusive na redução do crânio do falecido cuja técnica se perdeu na linha do
tempo. Os egípcios experimentaram outras técnicas, tudo para garantir a
continuidade da vida após a morte física. Entendiam que o espírito do
embalsamado permanecia próximo cuidando da própria múmia que um dia lhe
serviria, novamente, para voltar à vida. Com o faraó, eram sepultados os
serviçais necessários para que, quando voltasse à vida, pudesse continuar a ser
atendido por eles. Isto se constituía num privilégio para cada “acompanhante do
rei”. O mesmo se dava com seus pertences básicos. A crença na pluralidade da
vida terrena era e continua sendo plausível e cultuada. A ressurreição de
Cristo é uma variante de tal crença. O mesmo se vê com Osíris entre os egípcios
que caminha no mesmo sentido.
A transmigração tem variante destes
conceitos de pós vida, quando o espírito do falecido volta e passa a habitar o
corpo de um animal qualquer, podendo inclusive ser um regato, uma árvore, daí
nascendo a crença de que o vento, a chuva, o trovão, eram espíritos que se
manifestavam entre os vivos, para o bem ou para o mal. Haviam povos que não aceitavam a volta dos
espíritos, e que, uma vez falecido, o indivíduo ia para o céu, ou outro nível
transcendental, e jamais voltaria para ‘ incomodar’ os vivos. Há povos que afirmam
que o falecido permanece entre os vivos por um ano, e neste espaço de tempo
deve ser homenageado com cerimônias especiais. Após este prazo, ele se vai de
forma definitiva.
No meio indígena, havia tribos que
comiam o herói morto, em cerimônia especial, buscando com isto, ao comer de sua
carne, não para simplesmente se
alimentar, mas, sim para adquirir toda a coragem e astúcia do falecido. O mesmo
se dava com o inimigo morto em combate, mas considerado um herói. No campo da
religiosidade cristã, a cerimônia da conversão do corpo e do sangue de Cristo
em uma hóstia, é um claro processo de transmigração, através do pão e do vinho.
Morrer é contra qualquer princípio
humano, embora natural ao processo da vida.
A perpetuação da espécie é uma forma de eternidade através dos genes, e
busca, sob todas as formas, perseguir este objetivo.
Tanabi, abril de 2021.
Prof. Dr. Antonio Caprio.
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