Receberam-me quando nasci. Deram-me condições de continuar a viver.
Limparam-me dos vestígios da existência intrauterina.
Eram, a princípio, formas indefinidas para mim, mas amigas. Apoiavam-me sempre.
Eram macias, quentes e constantes.
O tempo foi se escoando pela plataforma dos anos e aquelas mãos se tornaram conhecidas.
Às vezes elas me castigavam. O castigo era tênue e não deixava rancor. Ensinavam-me.
Eram rápidas, ágeis, lindas.
Nunca as vi enfeitadas de joias a não ser um aro de metal dourado no dedo da mão esquerda que ostentava com orgulho.
Como se soltas no ar, aquelas mãos me apontavam o caminho da escola quando pequeno.
Vestiam-me o uniforme com capricho e colocavam em minhas mãos os cadernos.
La ia eu como uma vontade imensa de voltar.
Quando isso acontecia lá estavam elas esperando por mim. O almoço pronto, quentinho, preparado por aquelas mãos benditas.
Estas mãos fizeram de mim um adolescente e depois um adulto.
Quantas vezes sentiram o frio das madrugadas quando ficavam comigo, ao meu lado, nos dias difíceis quando minha saúde oscilava.
Quantas vezes saíram do aconchego de seu descanso para ver se eu estava bem em meu leito nas longas noites da vida.
A vida, em sua desabalada carreira, trouxe-as para acariciar meus filhos, apoiar minha
esposa e também ajudá-la nas duras lides da existência e viver conosco, os bons momentos de nossa família.
Envelheceram aquelas mãos. No dedo a velha aliança. Os anos tiraram a agilidade daquelas sagradas mãos. Veio a morte e elas se foram para sempre.
Sua imagem, porém, jamais será apagada de minha mente. Seu roçar pelos meus cabelos quando caminhávamos pela vida será sempre sentido em minha existência.
Quanta força. Quanta beleza. Quanta prestatividade. Quanto amor.
Aos meus filhos legarei o produto daquelas mãos sagradas, auferido das experiências vividas, dos exemplos dados e do amor recebido.
Benditas, pois, minhas mãos amigas porque elas são as mãos de minha mãe.
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