O Brasil praticamente nasceu após 1822 quando a independência deu seus primeiros passos. Com território imenso era um país essencialmente agrícola. Os grandes fazendeiros, senhores absolutos sobre a rala população e produziam café, cana-de-açúcar, algodão e cacau com a ajuda da mão de obra escrava. Agregavam-se aos senhores feudais os políticos, membros da igreja, do insipiente poder judiciário, do executivo nascente e do legislativo, submetidos à vontade dos senhores rurais. O governo de Pedro II era submisso e escravo da vontade dos senadores e dos deputados. As eleições eram arremedos da democracia. O dito popular diz que, neste tempo, o defunto comia o coveiro.
Em 1889 a
República gera um Brasil nacional e mais forças ganham os grandes proprietários
agora chamados de coronéis, não militares, e em cada região eram eles que
definiam o poder político, distribuindo cargos políticos a apadrinhados e
apoiadores, dominando os mais pobres e fazendo nascer o mandonismo, gerado no período colonial e evoluindo para o clientelismo, fazendo nascer fortes fraudes
eleitorais e uma notável desorganização dos serviços públicos. No processo
coronelista se definia um compromisso entre o poder central e as aristocracias
nos estados e com isto garantia-se a governabilidade, se estendendo até 1937
com a implantação do Estado Novo. No clientelismo destaca-se a figura do dono
do poder, o chefe e o cliente, numa relação voluptuosa e numa
eterna roda de dependência, que só começou a declinar na era Vargas, de 1930 a
1945, mas persistente.
O clientelismo
ressurgiu e se fortaleceu no período da Ditadura Militar, de 1964 a 1985, quando
se encerrou o período de exceção no Brasil com a eleição do Presidente da
República, onde o poder local volta a vigorar baseando-se na troca de favores,
agora entre os líderes políticos nos constantes pleitos eleitorais, reforçado
com a ajuda do poder estatal através do ‘loteamento’ de cargos e empregos
públicos, bolsas alimentares e sociais, ajudas financeiras ao poder municipal,
o ‘ninho’ eleitoral fecundo e de fácil cooptação, mediante políticas públicas com
fins claramente eleitorais numa vigorosa cultura política oligárquica. O voto consciente com o voto comprado é, sem
dúvida, a maior das distorções da democracia no Brasil. Razão tem quando Jose
Sobrinho afirma que “quem vende o voto, vende a consciência”.
A falsificação
das atas eleitorais no final do II Império mostrava que, quando uma ata era
‘correta e bem feita’, era falsa em seu inteiro teor. Wertevan Fernandes, em
seu livro ‘A Força do clientelismo’Ed.Universitária,2006, na página 39, nos ensina que no sistema
coronelista, “ votavam os vivos, presentes, mortos e ausentes”. Assim foi no
passado e muita coisa persiste até hoje neste imenso Brasil.
É sabido que o
chefe político deveria se manter no poder a qualquer custo. Premiava a
obediência e punia a desobediência, inclusive com o uso da força através de
seus capangas que não hesitavam em matar quem afrontasse o poder do coronel.
Como bem diz Wertevan Fernandes, em seu livro “A força do clientelismo: práticas
políticas recorrentes na cidade de `Pombal, PB, pgs 37/38: “ Criou-se
um acordo entre os donos do poder. Agora havia um governador do Estado eleito
que dependia dos chefes eleitorais, O coronel municipal apoiava o coronel
estadual que apoiava o Presidente da República, que por sua vez, apoiava o
coronel estadual, que apoiava coronel municipal. ...aumentou também a troca de
favores entre os coronéis e o governo. As nomeações de funcionários se faziam
sob consulta dos chefes locais”
Eram eleitos em eleições fraudadas os juízes de paz, os delegados,
escolhidos os vice lideres e o voto de cabresto ou de curral era prática comum
e quase oficial, mas que davam resultados práticos em favor dos mandantes.
A República
gerou um forte coronelismo no meio rural do interior do país, especialmente em
São Paulo, grande centro produtor de café, algodão e cacau. A base da vida
política do Estado era o coronel e não o cidadão. Diz, ainda Wertevan
Fernandas,p.41: O voto era um ato de obediência forçada, ou na melhor das hipóteses, um
ato de lealdade e de gratidão, porém, à medida que o votante se dava conta da
importância do voto para os chefes políticos, eles começavam a barganhar mais e
vende-lo mais caro”. A Igreja,
durante o século XIX, sustentava o governo monárquico. O corpo eclesiástico era
composto de inúmeros membros da sociedade controlada pelo coronel. A
Constituição de 1824 consolidou a união da Igreja com o Estado dando ao
Imperador o poder de nomear bispos no regime padroado. O Clero brasileiro se
subordinava ao Imperador e não ao Papa, mas obediente a este com olhos voltados
para o trono imperial. O Estado
patrocinava os religiosos no seu sustento, financiava a construção e
ornamentação das igrejas num mutualismo político perfeito. Sempre, no trono, al
lado do Imperador, havia um representante alto da Igreja. A própria coroação do
Imperador era feito por um alto representante do Clero. Coronel era o título
concedido pela Guarda Nacional a pessoas da alta elite e com poder financeiro
elevado, dono de terras onde haviam inúmeros lavradores dispostos a morrer pelo
‘chefe’ se preciso fosse, ou os governantes indicados por ele. Haviam ‘títulos’
menores aos sub-coroneis como capitão,
alferes e outros, mas coronel era apenas um por região com todos os poderes que
os coronéis estaduais e o Presidente da República atribuíam a eles.
Getúlio Vargas
se valeu de uma frente política chamada de Frente Liberal que se opôs a Júlio
Prestes, representante do continuísmo da “República-café-com-leite”. Prometia
reforma política, combate às fraudes eleitorais, reformas sociais, melhoria dos
salários, leis protetoras aos trabalhadores, às mulheres e menores de idade. O
acordo de conciliação foi rompido e a elite política mineira e gaúcha e contou
com a ajuda da Paraíba, enfrentando São Paulo e praticamente todo o país. No
dia 24 de outubro de 1930, cai Washington Luís Pereira e é impedida a posse de
Júlio Prestes, eleito em 1 de março de 1930 e exilado. O golpe decretou o fim
da República Velha. O caldeirão político nacional ferveu e Getúlio se valeu
deste estado de coisas para agir gerando a revolta civil-militar de 1930 e foi
derrubada a Primeira República. Junta Militar assumiu o poder passando o
comando do governo ao candidato da Aliança Liberal, Getúlio Dorneles Vargas em
um governo provisório de 1930 a 1934. Interessante foi a migração dos coronéis
interioranos, inclusive de São Paulo, que desapareceram do cenário e ou
migraram, imediatamente, para o grupo getulista como se assim fossem desde
‘criancinhas’.
Getúlio cria
comissão de reforma da legislação eleitoral e nasce o primeiro Código eleitoral
do Brasil. Disto nascem o voto secreto, o voto feminino e a Justiça Eleitoral.
A força dos coronéis praticamente foi drasticamente diminuída e as fraudes
eleitorais seriamente atingidas. Apesar de tudo, a base de sustentação dos
coronéis, a estrutura rural, ainda permaneceu forte nos municípios rurais.
Sob o comando de
Vargas nasceu a oligarquia estadual com a criação das interventorias que se
valiam dos coronéis para o domínio estadual e o clientelismo político se tornou
moeda de troca entre o poder municipal e o poder federal. O Estado-Novo – 1937 a 1945 – se valeu do
crescimento industrial em todo o país, livrando-se do domínio do poder rural e,
por conseguinte, dos coronéis. Apesar de todos os esforços, o Brasil não
crescia, a agricultura estava amarrada a burocracias, o custo de vida era alto,
a indústria atrasada e com altos custos levando o país a um empobrecimento
perigoso, a nível interno e externo. Esta situação fez renascer e tornar forte
o clientelismo
numa política perigosa na troca de favores em razão da manutenção do poder a
qualquer custo. Vargas Governou o país de 1937 a 1945 como presidente-ditador e de
31 de janeiro de 1951 a 24 de agosto de 1954, como presidente eleito pelo voto
direto. Afirmam que se suicidou. Que me desculpem os historiadores que assim
escrevem, mas não creio em suicídio. Vargas superou inúmeras crises e não
acredito sucumbisse a mais uma. Getúlio está presente na História brasileira
como o único presidente que foi deposto, em 1945, e eleito pelo voto popular em
1951.
A política
brasileira sofreu um populismo impressionante entre 1945 e 1964, afirma
Wertevan Fernandes, p.65. Dominavam a política neste período a UDN, o PSD e o
PTB. Era pequeno o universo partidário. JK botava em prática o “Brasil
grande, de grandes obras”. São gerada ideias do político que rouba mas
faz e nasce robusta a corrupção num clientelismo forte e corruptor se valendo
do pobre para divulgar suas benesses como se fossem deuses e pessoas e partidos
que ajudam o povo e pensam nele e seu bem estar
24 horas por dia.
Chega 1964 e o
golpe militar e seu alicerce foi a falência do sistema político nacional. Em
1954 houve uma ruptura significativa na política nacional com a saída de cena
de Getúlio Vargas, mas agora era diferente, visto que o comunismo espreitava o
Brasil como preciosa forma de se espalhar pela América Latina. Em março de 1964
Ranieri Mazzili, na qualidade de Presidente da Câmara dos Deputados assume a
Presidência da República sob a batuta de uma junta militar que se autodenominou
Comando
Supremo da Revolução. A repressão se abateu sobre todos os setores
nacionais. Assume o comando do país o general Humberto de Alencar Castelo
Branco que governa de 1964 a 1967. Foi ‘eleito’ pelo Congresso Nacional para se
transmitir ao mundo uma ideia de normalidade constitucional democrática. Surge
o Ato
Institucional nº 1, decretando a perda de mandato de governadores
eleitos, cassação de direitos políticos de parlamentares e representantes da
sociedade civil, professores universitários, líderes políticos, fechamento de
jornais, rádios e a implantação de um processo de censura e tortura, morte e
desaparecimento de pessoas consideradas opositoras ao novo sistema de governo.
Em 1965, pelo Ato Institucional nº 2,
são extintos os partidos políticos e criados a Aliança Renovadora Nacional-ARENA, apoiadora do regime
e o Movimento Democrático Brasileiro – MDB – representando a oposição. Isto dava a impressão pública e
internacional de liberdade democrática ao novo regime.
Com o Ato
Institucional nº 3, é feita reforma profunda na Constituição de 1946,
instituindo as eleições indiretas. O ato foi homologado pelo Congresso
Nacional numa forma de demonstrar o caráter democrático do ato. O texto limitou
drasticamente o poder dos estados e foi instituída a Lei de Segurança Nacional
autorizando severa vigília contra atos dos cidadãos, em especial os chamados ‘inimigos
internos’ instituições e entidades. Estes atos foram homologados pelo
Ato Institucional nº 4. De 1967 a 1969, no governo do general Arthur da
Costa e Silva (morto em 1969 e substituído por uma junta militar), grandes
focos de resistência se registravam pelo país. Em represália é editado o Ato
Institucional nº 5, fechando o Congresso Nacional, cassando mandatos
parlamentares, estabelecendo censura prévia e abertura de inquéritos militares
sigilosos. Foram criados vários órgãos de combate à repressão e controle da
ordem pública. A dura repressão fez calar as oposições durante o governo do
general Emilio Garrastazu Médici, que governou o país de 1974 a 1979 sendo seu
governo chamado de ‘ anos de chumbo’. Os
governadores eram ‘eleitos’ pelas Assembleias Legislativas estaduais
controladas pela ARENA.
Assume o poder o general Ernesto Geisel, de 1974 a 1979, escolhido por um colégio eleitoral composto de membros do Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. Enfrentando a ditadura militar a oposição lançou Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho como candidatos a presidente e vice-presidente. De nada adiantou o esforço, e dizem que foi apenas uma encenação. O general Geisel foi ungido pelas forças dominadas assumindo no dia 15 de março de 1974 e o país enfrentou uma grave crise econômica e institucional. Com acentuada queda na força política em razão da fragorosa derrota do governo nas eleições de 1978, é lançado o ‘ pacote de abril’ com o fechamento do Congresso Nacional. A partir daí o governo se valia de decretos para governar. É editada a “Lei Falcão” restringindo direitos eleitorais e estendendo o mandato presidencial de 5 para 6 anos. É criado o senador biônico para reforçar a maioria do governo no senado. O chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva torna-se na “eminência parda” do governo, em acelerada decadência e aceitação social.
Assume o poder o general Ernesto Geisel, de 1974 a 1979, escolhido por um colégio eleitoral composto de membros do Congresso Nacional e Assembleias Legislativas. Enfrentando a ditadura militar a oposição lançou Ulisses Guimarães e Barbosa Lima Sobrinho como candidatos a presidente e vice-presidente. De nada adiantou o esforço, e dizem que foi apenas uma encenação. O general Geisel foi ungido pelas forças dominadas assumindo no dia 15 de março de 1974 e o país enfrentou uma grave crise econômica e institucional. Com acentuada queda na força política em razão da fragorosa derrota do governo nas eleições de 1978, é lançado o ‘ pacote de abril’ com o fechamento do Congresso Nacional. A partir daí o governo se valia de decretos para governar. É editada a “Lei Falcão” restringindo direitos eleitorais e estendendo o mandato presidencial de 5 para 6 anos. É criado o senador biônico para reforçar a maioria do governo no senado. O chefe do Gabinete Civil, Golbery do Couto e Silva torna-se na “eminência parda” do governo, em acelerada decadência e aceitação social.
Já com grande
rejeição popular, assume o general João Batista de Oliveira Figueiredo,
governando de 1979 a 1985 e, diante de enormes pressões sociais, fez editar a
lei número 6.683, concedendo anistia política e alterando substancialmente a
lei eleitoral. A referida lei foi sancionada em 28 de agosto de 1979 e alcançou
cidadãos punidos pelos atos Institucionais, excetuados os punidos pelo Ato
Institucional nº 1, permitindo o retorno ao Brasil dos exilados, numa forma que
foi chamada de anistia plena, geral e irrestrita. Grandes pressões foram
feitas por várias entidades representativas tentando, sem muito êxito, em se
descobrir o paradeiro de centenas de desaparecidos durante o regime militar. É
editada a lei nº 6.978, de 19 de janeiro de 1982 estabelecendo regras para a
realização das eleições marcadas para 15 de novembro de 1982, instituindo o voto
vinculado, proibido o voto de legenda e proibidas as coligações e criou
a sublegenda, onde autorizava o lançamento de mais de um candidato pelo mesmo partido.
Instituiu-se, também, o voto proporcional e majoritário,
tudo isto para fazer com que o governo vencesse as eleições.
O povo se
levantou contra o governo, e em 1984, expressiva mobilização popular aconteceu
exigindo eleições diretas. O deputado Dante de Oliveira já havia
protocolado emenda constitucional nesse sentido, mas o trâmite no Congresso era
enormemente dificultado. Com o decorrer do tempo e sob forte pressão popular,
vários partidos aderiram ao projeto que precisava de dois terços do Congresso
para ser aprovado, e com o partido do governo, PDS contra, a emenda foi
rejeitada causando grande desalento em todo o país. Disputas internas no PDS,
acabaram por indicar Paulo Maluf para candidato a
presidente, vencendo Mario Andreazza candidato preferencial do governo gerando
perigosa dissidência. O PFL, Partido da Frente Liberal
rachou e parte dele aderiu ao PMDB, lançando a candidatura de Tancredo
Neves à Presidência e José Sarney para vice. O Colégio Eleitoral se
reuniu no dia 15 de novembro de 1985 e a chapa recebeu 441 votos, de um total
de 480 votos, colocando um fim aos 21 anos da ditadura militar brasileira.
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