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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

EDUCAÇÃO: REFLEXÕES NECESSÁRIAS




A educação é um processo moroso que se inicia nos primeiros momentos da vida de uma pessoa, de um indivíduo, e se prolonga por toda sua vida. As fases são naturais e não podem ser ‘puladas’. Não se admite falhas neste processo. Deve ele ser constante, sequencial e cumulativo.
Houve tempo em que a educação era responsabilidade única do Estado enquanto poder político organizado. Só haviam escolas oficiais, reconhecidas e dotadas de poder absoluto na busca de seu objetivo: transmitir conhecimentos. Hoje ensinar é preparar o cidadão para o exercício pleno da cidadania.
Segundo Freire em seu livro ‘Pedagogia da Autonomia’1996, ensinar exige pesquisa, exige respeito aos saberes dos educandos; ensinar exige criticidade; ensinar exige estética e ética; ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo; ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; ensinar exige reflexão crítica sobre a prática; ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural. Defendeu o referido educador a progressão continuada que, infelizmente, acabou sendo convertida em promoção automática, que se tornou no grande fantasma da educação.
Ensinar não é transferir conhecimento. Há necessidade de se ter em mente que ensinar exige consciência do inacabamento do educando e do educador, visto que o ser nunca aprende tudo sobre tudo nem ensina o que não sabe e nem mesmo tudo o que sabe.
Recentemente foi constatado que 26% dos professores da rede pública estadual afirmaram que seus alunos não sabem ler nem escrever. Entendo que a porcentagem é pequena, e com certeza as respostas tentaram ‘encobrir’ um percentual muito mais elevado, talvez até por buscar encobrir a defasagem em que o ensino realmente se encontra ou a própria participação do pesquisado no processo. A repetência no ensino médio é assustadora,somada à desistência, sendo necessário se destacar que a maioria dos alunos é aprovada pelo conselho, ou seja, é ‘empurrada’ para frente. Basta se ler as atas dos conselhos de classe onde predomina a expressão: ‘aprovado pelo conselho’, o que significa, foi reprovado, mas foi promovido para a série seguinte. Nesta fase o professor é conivente, pacífico, calado e concorda com o que os gestores da escola desejam,determinam a mando de esferas superiores. Semelhante procedimento é adotado no ensino fundamental.
Em 2010 o Estado de São Paulo obrigou as escolas a promoverem alunos que estejam em defasagem de idade, conforme a série. O processo se chama ‘reclassificação’, ou seja, o aluno tem idade para estar na sexta, sétima ou oitava séries, então ele ‘pula’ para a série conforme sua idade, mediante um procedimento de “provinhas” que são montadas e que não representam a verdade, tudo num verdadeiro ‘ circo educacional’. Promove-se o aluno sem nenhum ‘pudor’ didático ou  pedagógico. O criador deste processo deveria ser responsabilizado. Pensou no equilíbrio das idades mas cometeu um verdadeiro crime quando aos princípios básicos da educação.
O mercado de escritores sobre pedagogia da educação está totalmente inchado. A grande maioria dos autores nunca deu uma aula a não ser como aulas-modelos para clientelas montadas para o ‘espetáculo’ educacional. São teóricos que sonham enquanto os professores no batente das salas de aulas estão em constantes pesadelos.  Raríssimos são os que enfrentaram os 200 dias letivos mais 165 na preparação de todo o trabalho do período letivo. Das duas uma: ou rasgariam o que escreveram ou reescreveriam  tudo demonstrando o que realmente ai está.
O tempo, num passeio por um determinado espaço medido por anos, modifica o ser, os grupos sociais, os estados e até os pensamentos que foram entendidos como imutáveis por serem próprios da essência humana. O indivíduo, em processo de educação, se adapta ao tempo vivido. Absorve as ‘perfumarias’ da época e do meio onde vive.  Transforma-se. Transmuta-se de um ser natural em um ser produzido, montado conforme as circunstâncias e o desejo do poder político reinante. O que determina tudo e o que realmente interessa, são as ‘estatísticas’ positivas, números.
No sistema adotado recentemente, as avaliações para progressão continuada (introduzida em 1998, junto com o sistema de ciclos que praticamente extingue a repetência) serão feitas nas 2,4ª,6ª e 8ª séries e não mais apenas na 2ª,4ª e 8ª séries, que também eram presentes só no papel. De que adianta a avaliação se não há retenção? Se fosse ‘pra valer’, alguma coisa de bom aconteceria, mas na prática ficará, como antes, apenas no papel e os conselhos continuarão a ‘promover’ os alunos, mesmo que tenham notas vermelhas em todas as disciplinas e registrem, como condição ‘sine qua non’ presenças (física) dentro do mínimo necessário. O aluno sabe que será promovido e em razão disto, deixa as coisas acontecerem do jeito que for melhor e mais proveitoso para ele. O estudante bom deixa de estudar; o que não quer nada com nada, nada de braçadas nos seus conceitos de matar o tempo na escola. A criança na escola dá à família um tempo de sossego e não há mais interação plena entre os dois pilares da educação que são a família e a escola. Ambas estão totalmente divorciadas. Registro aqui meu repúdio à idéia da reprovação pela reprovação.
O processo de recuperação paralela ou mesmo de reforço são utopias e campeiam na área da criação imaginativa de nossos mentores educacionais. Se há reforço, há fracasso confesso do processo educacional vigente. E este fracasso, ocorreu por que?
Precisamos não só de escolas para todos, mas de escolas de boa qualidade para todos, sejam pobres, sejam ricos, se de fatos desejamos uma pátria forte, menos injusta socialmente. A educação funciona com vontade política. Somos responsáveis pelos homens públicos que colocamos no poder’.(Izabel Sadalla Crispino,Repetência Escolar,Supervisora de Ensino aposentada(2000).(grifo nosso)
Andy Hargreaves, em seu livro ‘Ensino na sociedade de conhecimento: Educação na era da insegurança’, afirma que vivemos em uma economia do conhecimento e que as escolas são as geradoras destas matrizes, já que a riqueza e a prosperidade dependem da capacidade das pessoas de superar seus concorrentes em criação e astúcia, sintonizar-se com os desejos e demandas do mercado consumidor e mudar de emprego ou desenvolver novas habilidades à medida que as flutuações e os momentos de declínio econômico assim o exigirem.
Ensinar é uma profissão paradoxal. Afirma Rubens Alves em seu livro ‘A alegria de Ensinar’ que o professor não morre jamais e que ensinar é um exercício da imortalidade. Dos professores (e das escolas) se espera que construam comunidades de aprendizagem; criem a sociedade do conhecimento e desenvolvam capacidades para a inovação, a flexibilidade e o compromisso com as transformações essenciais à prosperidade econômica do país e do educando.
Os professores de hoje se encontram presos por uma poderosa força de interesses e imperativos conflitantes. Um cipoal de legislação envolve seu trabalho e o transforma em repetidor de textos, de informações onde o conhecimento escoa para caminhos indefinidos e perigosos. E o que é pior, com os nervos à flor da pele, não só em razão dos salários percebidos, mas, em especial, porque sabem que o sistema está comprometido e com mínimas chances de sucesso.
O tempo flui eterna e continuamente. A educação age, o novo cidadão aflora e, no mesmo processo em que foi gestado continua a produzir novos cidadãos, à sua semelhança e também no mesmo processo de modificação ou de imobilização. Esta seqüência se instala continuamente e o produto da educação emerge e comanda novos processos numa interminável seqüência perigosa e contagiante.
Como uma virose, os produtos da nova educação e do implantado processo cultural, se tornam ‘modelos’ e os doutores, mestres e especialistas em educação, numa euforia preocupante, aplaudem a ‘ modernização do ensino’ como que o grande messias que era esperado para a redenção da espécie humana.
A questão da avaliação é um tormento para os professores. Regras e mais regras e o que se tem realmente é uma promoção automática disfarçada, onde só interessa a presença física do aluno, desmotivado ou não, aprendendo ou não. Retenção só por abandono e ainda assim há casos de promoção, com retirada do excesso de faltas para se poder diminuir ao máximo o número de repetentes. Números negativos causam mais temores do que cruz para vampiros. O processo da avaliação está semelhante a uma dona de casa que, catando feijões com defeito, depois de muito trabalhar, ao final, junta tudo e põe na panela. De nada adianta o esforço dos professores, visto que ao final, todos serão promovidos, gerando uma total sensação de impotência e inutilidade.
Modificam-se grades de ensino, criam-se promoções continuadas, fundem-se disciplinas e criam ‘blocos’ de matérias que são pensadas como soluções aos inúmeros problemas educacionais que enfrentamos no Brasil, em nossos estados e em nossos municípios desde a década de 60 com a famigerada criação de licenciaturas breves e plenas para engordarem as estatísticas frente ao mundo.
Os laboratórios educacionais continuam freneticamente na produção de ‘fórmulas mágicas’ pensando resolver a questão da transmissão do conhecimento, da preservação dos valores culturais, sociais, morais e políticos. Poções mágicas fantasiosas, sem ter o pé no chão e sem reconhecer os métodos utilizados ontem e que deram certo. Tentam apagar o passado com borrachas duras que só rasgam o papel e a nada chegam.
Posso parecer negativista no que aqui registro, mas isto tudo nasce da realidade concreta da escola hoje. Há pontos positivos a serem comemorados e não são poucos, apesar da alta dose de propaganda enganosa veiculada pela mídia e assinada por velhos discursos que a nada levam. Educar é um processo. Estas ‘invenções’ por meio de injeções venosas são paliativas. Uma vez interrompido, retomá-lo é doloroso. É como um tratamento médico que, defeituoso, precisa se iniciar no zero se o paciente não entrar em óbito antes.  As seqüelas destas interrupções no processo educacional são perigosíssimas e incuráveis. As gerações submetidas a estes procedimentos podem ser prejudicadas de forma irrecuperável no tempo e no espaço
O professor tem uma função complexa, singular, interdisciplinar, contextualizada. Complexa, porque precisa ter sensibilidade para perceber e acolher as diferenças individuais e, singular porque precisa desenvolver seu trabalho no nível e no ritmo de cada aluno, respeitando sua potencialidade, desenvolvendo suas habilidades e atitudes à medida que seus alunos se apropriam do conhecimento.
O processo educacional está doente e não a educação. Os gestores deste processo precisam acordar para esta realidade. É preciso baixar as armas e se propor a começar tudo de novo, antes que tarde demais. Feio não é mudar de idéias, feio é não se ter idéias para serem mudadas. O brasileiro é inteligente e capaz de produzir coisas muito melhores do que esta parafernália que se ostenta no país há mais de três décadas.
Um processo educacional defeituoso repercute em todos os demais segmentos da sociedade humana e alcança gerações futuras, com graves conseqüências no sistema de produção, uso, transmissão e evolução do conhecimento, sem se incluir aqui as questões de natureza social e familiar.
Educação implica em cultura. Em ambas a certeza num futuro melhor.


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