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quarta-feira, 6 de março de 2013

O CARRO DE BOI E SUA TRAJETÓRIA


O tempo é mesmo um fio que une o passado ao futuro passando pelo presente, que é fugas e intrometido. O transporte de bens móveis foi e é para o homem um elo que une o sistema antigo ao moderno e até ao futuro. A movimentação dos bens móveis na superfície do planeta é uma ação que remonta os calendários e sem dúvida permanecerá e a cada dia mais subjugando o homem, seu criador. 

As costas serviram como base do transporte inicial. O cangote, ou cogote, é a região da nuca que foi o sistema pioneiro onde o homem antigo acomodou seus bens móveis e os transportou pelos seus domínios de então. A roda nasceu e a carriola, como uma alavanca rodante, moveu o mundo, folgando as costas humanas. Mais bens e maiores distâncias fizeram nascer a carroça, um carro grosseiro, com rodas pesadas, alavancado por dois varais e pela força de um animal, inicialmente o cavalo, e depois o boi. O carroção deu lugar a mais peso e mais quilômetros. O homem já viajava pelos arredores onde nasceu. Se tornava, com isto, regional.

O homem se tornou viajante. O carro de boi o meio de viagem segura. Bens móveis e familiares se acomodavam nesta ‘máquina’ e as distâncias eram devoradas com a brisa no rosto, o calor nas cabeças e a poeira das estradas. No mundo, egípcios, chineses e hindus já usavam os bois para arrastar seus bens sobre rodas improvisadas. Em 1549 Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil já usava esta ‘máquina’. As roças dos engenhos se baseavam no carro de boi e suas juntas poderosas de bois criados para tal trabalho. Eram imprescindíveis para a vida no campo. A revolução farroupilha usou do carro de boi brasileiro transportando carretões de madeiras pesando de 12 a 18 toneladas. Cerca de 50 juntas de bois formavam a força de tração.

No século XVIII o burro ameaçou a primazia do boi. Os muares eram mais ágeis e não exigiam trilhas prévias e terrenos regulares. No final do século os cavalos assumiram os encargos e o carro de boi começou a ser proibido de transitar pelas cidades, ficando seu uso restrito ao meio rural. Os veículos motorizados invadiram o setor e o carro de boi e a carroça foram perdendo seus espaços e hoje estão restritos s pequenos pontos do país.

Um carro de boi autêntico tem a canga, onde se prende o cabeçalho ou cambão, colocada sobre o pescoço de dois bois, o canzil, forma de estacas trabalhadas que atravessam a canga de cima para baixo de modo que cada boi fique entre duas dessas estacas, a arreia, que são os suportes que atravessam de forma transversal o cabeçalho, a cantadeira, parte do eixo que fica em contato com a parte superior do chumaço, produzindo um cantar característico do carro ouvido a quilômetros de distância, a cheda, o cocão, o fueiro, a mesa, o recavém, o tambueiro, a brocha e a roda.

Os cultores do folclore não esquecem o carro de boi. Estes são lembrados em festivais realizados em vários locais, com destaque para o festival de Formiga, Bambui, Bertioga, Vazante, Macuco de Minas, Pará de Minas e outros locais. No Solar do Unhão, sede do Museu de Arte Moderna da Bahia, criado por Lina Bo Bardi, o carro de boi é o ponto alto da festa. Músicas sertanejas como ‘Boi de Carro”, de Tonico e Tinoco, eternizaram nosso mais antigo meio de transporte rural.

O tempo fez se aposentar o carro de boi, as carroças e por fim as charretes, mas não faz desaparecer da mente do caboclo natural, dos intelectuais que honram o passado com suas histórias e registros, a magia que tal engenho humano exerceu e exerce sobre todos nós. Está em nossa genética, em nossa história familiar e comunitária o sentimento de gratidão que todos devotam a este equipamento que nasceu do esforço do homem, conjugando as forças do animal, para fazer da vida humana o que ela é hoje, frente à tecnologia, sem se apagar o passado.

Nossa homenagem ao velho e inesquecível carro de boi.

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