O voto anda par-a-passo com o
interesse pessoal do eleitor, ou seja, o eleitor age, sempre, buscando seu
próprio benefício. O voto tem utilidade e o Governo devolve ao eleitor escolas,
ruas pavimentadas, sistema de esgoto e fornecimento de água, a coleta de lixo e
outros serviços públicos, em menor ou maior grau. O sócio majoritário desse
interesse está sediado no partido político. É ele o definidor do que o cidadão
oferece e recebe formando o Governo que vai centralizar e canalizar toda ação e
em nome do cidadão agir. O Governo, por sua vez, deseja permanecer no poder e o
único meio disto se concretizar é o voto e o ‘dono’ deste voto é o cidadão a
quem o Governo tudo deve. O Governo é a reunião de forças políticas que detém o
poder e, embora o princípio da separação dos poderes esteja vigente, o
Legislativo e o Executivo é o Governo.
No sistema político brasileiro o
eleitor tem de se filiar a um partido se desejar nele ser candidato ou desejar
auferir vantagens de tal filiação, exigindo de seus comandantes, espaço
diferente do cidadão-eleitor comum. O cidadão não filiado é um mero portador de
um voto que precisa ser dirigido e com isto o Governo permanecer no poder. Se
um partido tem chance de vencer no processo eleitoral, o eleitor vota nele. O
mesmo acontece com o candidato que, nas pesquisas, mostre melhor desempenho. O
estímulo para tal é o benefício pessoal. Se seu partido não tem chance de
vencer, o eleitor vota em outro partido que tenha chance razoável. Se há chance
de empate entre seu partido e outro que ele não apoia, o eleitor se abstém. O
Governo sempre age de forma a permanecer
no poder e sua premissa maior é controlar todo o aparato que o leve a isso, e o
aparato básico é a ‘ maioria ‘.
Para que esta ‘maioria’ esteja no
domínio do Governo, tudo vale e tudo pode e a manutenção desta ‘maioria’ leva o
Governo a realizar coalizões que podem levar o próprio Governo a perder o poder
para uma ‘ minoria ‘, sempre ansiosa
para ocupar o lugar do mando. Um Governo sempre trabalha com a hipótese da
reunião das minorias visto que os componentes do Governo são pessoas que podem
mudar de posição e até de opinião. Um Governo forte é presa fácil da oposição porque
comete erros. Um partido no poder nem sempre vence por muito tempo e esta é a
premissa maior da minoria. Assim reza a ‘ teoria
da liderança’, mesmo entre os animais.
O pressuposto da manutenção do
poder não é duradouro porque a ‘ utilidade’, ou seja, o benefício
pessoal do eleitor, varia e nunca diminui, crescendo sempre, exigindo do
Governo mais e mais numa roda interminável e perigosa, abrindo verdadeira guerra
entre os líderes e liderados, onde o ganho e a perda do voto se tornam em fantasmas
perenes do Governo. Governos ordenam suas ações para cooptar seus eleitores e
estes eleitores fazem do Governo o ponto de suas vaidades criando uma relação
contínua e crescente de interdependência, em especial no Governo
presidencialista e sob a égide do voto majoritário e proporcional. Chefes de
Governo já ascenderam e cairam sob esta poderosa força e, no sistema
democrático, esta balança está em constante oscilação, despejando e
arregimentando membros que, muitas vezes, se julgaram ou se julgam
insubstituíveis.
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